15/07/2025 12:41:00

Caso Vicky Justus e outros: entre privilégios e pressões, como a fama dos pais pode impactar a vida dos filhos?

Caio Fonseca/Redação RedeTV!

Quando o sobrenome vem com holofotes, crescer pode ser um desafio silencioso

(Foto: Montagem Rede TV/ Instagram)

Ser filho de celebridade pode parecer um sonho aos olhos do público: roupas de grife, viagens internacionais, acesso aos melhores colégios e uma vida cercada de luxo e oportunidades desde os primeiros passos. Mas, por trás da aparente perfeição, existe uma realidade muitas vezes silenciosa e complexa: a pressão de crescer sob os holofotes.

Cada aparição pública, postagem nas redes sociais ou comentário da imprensa pode moldar, ou até distorcer, o desenvolvimento emocional dessas crianças e adolescentes. Afinal, quais são os verdadeiros impactos da fama dos pais na vida dos filhos? A reportagem montada pela Rede TV! busca mergulhar nesse universo para entender os privilégios e os desafios enfrentados por quem nasce com os olhos do mundo voltados para si.

Um dos casos mais recentes envolve Vicky, filha do apresentador e empresário Roberto Justus com a influenciadora Ana Paula Siebert. A menina foi alvo de ataques de ódio nas redes sociais após aparecer com uma bolsa avaliada em cerca de R$ 14 mil.

Titi e Bless, filhos de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, também foram vítimas de ataques racistas online, o que levantou debates importantes sobre racismo, exposição infantil e os limites da internet. Romeo, filho de Ticiane Pinheiro e Roberto Justus, diagnosticado com autismo, mesmo com o cuidado dos pais em protegê-lo, já foi citado de forma indevida em comentários maldosos nas redes.

No Brasil, diversos filhos de famosos já revelaram o peso de crescer sob os olhos do público. Embora vivam de forma privilegiada, muitos enfrentam cobranças, comparações e expectativas que não escolheram carregar.

Cléo Pires, filha de Glória Pires e Fábio Jr., contou em entrevista ao Conversa com Bial que sofreu com idealizações e comparações. “As pessoas queriam que eu fosse a mistura perfeita dos meus pais. Quando comecei a atuar, diziam que eu só estava ali por causa do sobrenome”, relatou. O excesso de expectativas afetou sua autoestima e a levou a buscar distanciamento da imagem construída sobre ela.

Outro exemplo é Enzo Celulari, filho de Claudia Raia e Edson Celulari. Apesar de hoje atuar como empresário e influenciador, ele já relatou em entrevistas que, durante a infância e adolescência, evitava aparições públicas e se incomodava com a exposição excessiva. “É difícil crescer sendo observado, as pessoas esperam coisas de você antes mesmo de você entender quem é”, afirmou.

Esses relatos revelam que, mesmo quando a fama não é imposta desde a infância, crescer sob os holofotes pode deixar marcas profundas. Mas os impactos se intensificam ainda mais quando a exposição começa cedo demais, antes mesmo de a criança ter consciência do que está vivendo.

Exposição precoce e efeitos emocionais

Para além dos filhos que não desejam a fama, casos envolvendo celebridades infantis também acendem alertas: até que ponto a exposição precoce interfere no desenvolvimento emocional da criança? Para entender melhor esse cenário, ouvimos o doutor Iago Fernandes, médico especialista em saúde mental de crianças e adolescentes, e a especialista em Direito de Família Helena Achcar.

Segundo Iago Fernandes, a exposição nas redes sociais desde os primeiros anos pode impactar profundamente a formação emocional. É nesse período que se constroem elementos como autoimagem, autoestima e autorregulação emocional.

“Quando essa construção se dá sob os holofotes, há uma inversão. A criança passa a ser moldada pelo olhar do outro antes mesmo de consolidar o próprio olhar sobre si. E o caso recente da filha do Roberto Justus é emblemático. Ao receber críticas e ataques por sua aparência e comportamento, mesmo sem compreender a dinâmica da internet, ela teve contato com sentimentos como rejeição, julgamento e inadequação, que são extremamente difíceis de serem processados emocionalmente na infância”, explicou o especialista.

Ainda de acordo com Fernandes, esse tipo de exposição pode desenvolver um “gatilho silencioso para transtornos de ansiedade, depressão ou outros, tanto na adolescência quanto na vida adulta”.

Esse cenário também levanta uma questão delicada: até que ponto os filhos não acabam se tornando “extensões” da imagem dos pais? O risco é real e, segundo especialistas, pode trazer implicações profundas para a saúde mental.

Essas crianças, muitas vezes, apresentam sintomas ansiosos, depressivos ou dificuldades em tomar decisões, já que nunca foram autorizadas a errar, escolher ou descobrir quem realmente são. “Quando a imagem pública dos pais é muito forte, como nos casos de Roberto Justus ou Neymar, os filhos são colocados numa posição de continuidade simbólica”, avalia Fernandes.

De acordo com ele, há uma pressão para que essas crianças mantenham padrões de beleza, talento, compostura e até ideais éticos, como se fossem réplicas dos próprios pais.

Riscos para o desenvolvimento da criança exposta à fama dos pais:

Perda da identidade própria: dificuldade em desenvolver quem realmente é

Dependência emocional: vínculo emocional excessivo com os pais ou terceiros

Rompimento familiar: possibilidade de ruptura radical com a família no futuro

Neurose de destino (Freud): repetição inconsciente das frustrações herdadas

Prejuízo à autoestima: impactos duradouros na confiança pessoal

Falta de independência: dificuldade em tomar decisões ou agir sozinho

Problemas de socialização: dificuldades de interação com outras pessoas

Identidade inautêntica: ausência de gostos, ideias e opiniões próprias

Busca constante por aprovação: necessidade contínua de validação externa

Efeitos duradouros: prejuízos que se estendem à infância, adolescência e vida adulta

Os limites da exposição: o que diz a lei

Do ponto de vista jurídico, a especialista Helena Achcar lembra que a criança tem o direito à privacidade e à imagem garantido pela Constituição Federal. “A criança, assim como os adultos, possui o direito à privacidade e à imagem garantidos pela Constituição Federal […] Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seus artigos 17 e 18, reforça a proteção da intimidade, imagem, identidade, autonomia e valores da criança e do adolescente. Isso significa que o uso da imagem de crianças, inclusive nas redes sociais, deve respeitar sua condição de pessoa em desenvolvimento, garantindo a proteção prioritária de todos os seus direitos fundamentais”, explicou.

Ela também destacou que os pais não têm liberdade irrestrita para expor a imagem dos filhos na internet: “Embora tenham autoridade legal para tomar decisões, essa autoridade não é absoluta.”

“Esse é um desafio muito delicado, especialmente no mundo atual, onde a cultura da visibilidade se impõe como valor central. A linha entre compartilhar e expor é muito tênue, e muitas vezes cruzada por boas intenções. A vontade dos pais de dividir a vida familiar com amigos, seguidores, fãs, pode, muitas vezes, sem perceber, atropelar o direito da criança a existir fora do olhar público”, completou Fernandes.

A especialista reforça ainda que essa proteção vai além de uma orientação ética: “O tema está muito bem descrito, falando pelo aspecto legal, na Constituição brasileira, no ECA, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que garante o direito, a dignidade e a privacidade da criança. (…) A privacidade é um componente da saúde mental, muito importante, mesmo na infância. Quando ela é violada repetidamente, o desenvolvimento da confiança e do senso de segurança é afetado também.”

Como proteger os filhos da superexposição?

Evite divulgar:

A escola em que estudam

Horários e atividades diárias

Locais que frequentam

Evite expor a criança em situações constrangedoras, como:

Momentos de choro

Frustrações

Situações íntimas

Recomendações adicionais:

Peça o consentimento da criança, especialmente se ela tiver idade e maturidade para compreender

Preserve a privacidade

Garanta a segurança

Cuide do bem-estar emocional

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